Aula 4 da Pandora

~~~ Ultima aula.. Seria a formatura? ~~~
A terceira aula havia sido um fiasco. Pandora tinha plena noção do quanto errara perante a professora, menosprezando a cópia dela e acreditando que seria facilmente desfeita. A menina-elfa se sentia envergonhada por não ter tido concentração suficiente para atacar sua adversária quando se assustou e mais ainda por não ter completado o exercício com o mesmo louvor dos anteriores. Sua mente ficou uma bagunça durante várias horas após a aquela aula e por alguns segundos cogitou desistir, mas estava demasiadamente longe para fazê-lo. A verdade é que de tão teimosa, a desistência não era uma opção... Mas além da teimosia, a teatralidade definia bem a jovem Wonder. De qualquer jeito, naquele dia a menina elfa demorou para atravessar a porta da sala, encontrando no lugar das carteiras um local vazio onde Elizabeth e os outros alunos formavam um círculo desajeitado, mas diferente das ultimas aulas, estavam todos de pé.
Pandora não foi a ultima a chegar, mas se aproximou bastante disso. Não manteve contato visual com a professora enquanto se dirigia para um dos 'buracos na formação', varrendo a sala com os olhos na tentativa de contar os alunos: 10, contando com ela mesma, o que significava que faltavam apenas dois. Por sua vez, eles não tardaram a chegar, deixando o círculo um pouco menos esburacado e um pouco mais parecido com um circulo de verdade.
Assim que todos estavam mais ou menos prontos, Elizabeth começou a dar as instruções enquanto andava entre os jovens, comentando algo aqui ou ali, mas de modo geral só queria uma coisa: uma revisão prática de tudo o que aprenderam.
Pandora estremeceu na hora, pensando em seu fracasso da tentativa anterior, mas não disse nada. Seria sua ultima chance de conseguir vencer a instrutora, e isso acabou fazendo com que um sorriso maldoso surgisse nos lábios da menina. Em parte havia o medo de falhar, mas vencido pela voz da maioria, ele se calou. Tudo o que a menina conseguia assemelhar é que teria uma nova chance de derrotar a projeção de Liza, mas dessa vez se sairia bem.
Primeiro seria algo simples: teriam apenas que expulsar a mulher de cabelos negros da maneira convencional: oprimindo-a para que saia. Mas depois teriam de lutar com a resistência dela: a projeção astral.
Apesar de comprida, a tarefa não parecia difícil, e em poucos segundos eles saberiam quem seria capaz de cumpri-la. Após falar, a aura rósea tomou a face da professora, em questão de pouco tempo ela já adentrara na mente dos alunos, que já acostumados com a atividade fecharam os olhos sem pensar duas vezes. Pandora ainda aproveitou para se sentar, tendo plena consciência de que não seria algo rápido, e só depois imitou os colegas, entrelaçando os dedos enquanto se concentrava.

~~~ A invasão ~~~
Assim que os olhos da menina-elfa se fecharam as memórias começaram a fluir por uma torrente rápida em sua mente. Sabia que tudo aquilo era por influência de Elizabeth, que forçava mais do que nunca naquela invasão. Pandora respirou fundo algumas vezes, usando o máximo de sua concentração para ignorar todas aquelas lembranças e se focando na imagem de como a sala estava naquele exato momento. Por ser uma lembrança recente não precisou de muito para arrasta-la para o centro das atenções, desviando as gravuras que a instrutora insistia em empurrar.  A princípio funcionou muito bem, mas em questão de instantes, as imagens-memórias que rodeavam sua cabeça começaram a soltar frases marcantes ou palavras doloridas, tentando tirar a menina daquela realidade que ela mesma criara. Para fugir dos sons, Pandora concretizou uma espécie de alto falante na sala em que seu foco estava, permitindo que uma música já muito conhecida iniciasse a série de distrações que estava por vir. Não começou com a costumeira música infantil, mas aquela parecia trazer um efeito ainda melhor. Quer dizer, os primeiros acordes de Back In Black saíram baixos, lentos... Mas em questão de poucos minutos a música dominava todo o espaço imaginário que podia encontrar. A canção tirava o sentido das memórias infelizes ou dolorosas, tornando-as apenas um clipe com gravuras de uma música especialmente boa. Para dar mais efeito, Pandora deixou que feixes de luzes coloridas tomassem parte, mudando o foco entre as imagens e repentinamente voltando para a principal: a sala de aula. O ritmo se manteve constante até que a música terminou, sendo logo substituída pela irritação comum de 'um elefante incomoda muita gente'.
As canções eram gritantemente distintas, mas ambas exigiram atenção, oprimindo a força de Elizabeth parecia exercer.
Vendo o quão bem estava se saindo, Pandora retomou uma velha estratégia, usada na segunda aula com as mesmas condições: sala vazia, paredes falantes. Diferente de como começara da ultima vez, a sala já foi tomada por tons de arco-ires e cores gritantes para onde quer que os olhos se focassem, sendo ilustrada com slogan de bandas, animas animados, objetos coloridos e fotos em geral. Da parede a esquerda soava a famosa 'eu sou um bolinho de arroz', da direita 'Back In Black', do teto 'Eye of the Tiger', do chão 'bananas de pijama'. Em geral parecia uma mistura de uma mente infantil e bons gostos musicais, finalizada por um alto-falante de centro que praticamente berrava 'um elefante incomoda muita gente'.
Sem conseguir se concentrar, Elizabeth passou para a projeção astral, assumindo o mesmo cenário arborizado da ultima vez.

~~~ Pandora x Elizabeth - Projeção Astral ~~~
A projeção de Elizabeth já deixou claro no início que não iria facilitar. Com a Katana em mãos, ela avançou na direção de Pandora, rodando a arma em pequenos círculos enquanto andava em passos largos. Pandora pensou em projetar seu arco, mas outra arma seria melhor para surpreender a mulher, acostumada com os tiros de flechas energéticas de sua aluna.
A jovem simplesmente esperou, em em poucos instantes a mulher já corria em sua direção, aparentemente enfurecida pela calma da menina. Sem fazer muito alarde, Pandora materializou uma pequena adaga com a lâmina mais pesada do que o cabo, o que garantiria que acertaria com o lado certo. Enquanto a mulher corria, Pandora lançou a mine-espada, direcionado-a para a coxa da projeção de professora. Pega de surpresa, a morena teve que parar de correr para desviar com um giro de corpo todo para a esquerda, mas antes de se recompor um novo projétil vinha em sua direção. Elizabeth 2 tentou produzir um escudo ao ver que a adaga se aproximava, mas esse só se formou parcialmente, sendo atravessado pela lâmina cortante. A 'faca' acertou um pouco abaixo do esperado, cravando-se pouco a cima do joelho da projeção antes de se desfazer. Apesar de ter acertado, a força não foi total, já que parte de sua energia acabou sendo abafada pelo escudo falho. A morena se irritou, vendo um pseudo-sangue escorrer pelo ferimento. Levantando sua mão esquerda e a impulsionando para frente, fez com que uma espécie de 'peso' de energia voasse em direção a adversária, que foi atingida em cheio. Pandora trincou os dentes, determinada a vencer, e se levantou em questão de segundos, produzindo uma lança de energia negra na frente de seu corpo e a empurrando em direção a mulher, que desviou sem muita dificuldade. Aparentemente a luta seria a distancia, já que após desviar, Elizabeth lançou uma espada de energia que rodou horizontalmente na direção de Pandora. Para escapar, a menina precisou se jogar no chão, o que foi bem aproveitado pela projeção que voltou a correr na direção dela.
Ao ver o que acontecia, Pandora estendeu ambas as mãos, fazendo com que uma espécie de mão energética prendesse a mulher onde estava, menos de meio metro a frente da garota.
Mesmo que já adaptada ao meio astral, Elizabeth arqueou as sobrancelhas, olhando surpresa para os próprios pés.
_Minha mente, minhas regras. - Comentou Pandora, materializando o arco negro em suas mãos. Com um sorriso sarcástico, a menina fez uma projeção de sua própria projeção, optando usar os números a seu favor. Aquilo fez com que seu corpo ficasse exausto, mas ela disfarçou, começando a correr para a direita, mas mantendo sua 'outra eu' parada, cercando a mulher enquanto a mão se estendia pela perna dela, parecendo paralisar seu corpo. Criando uma flecha, assim como fez sua cópia, e a colocando na corda prateada de sua arma, Pandora direcionou o projétil de energia para  as costelas do lado direito do corpo da adversária enquanto a outra projeção mirava no centro do peito da morena. Em uma sincroniza perfeita as duas dispararam, vendo ambas as flechas traçarem a trajetória perfeita para o alvo. Elizabeth 2 poderia defender apenas uma, já que sua outra não estava ocupada com a katana. O fim já estava meio previsível quando a professora liberou a Wonder, fazendo as imagens sumirem de sua cabeça e cancelando sua invasão.

~~~ O fim das aulas ~~~
Quando voltou a abrir os olhos, Pandora se surpreendeu com a quantidade de pessoas que haviam acabado o exercício. Mais da metade da sala estava de olhos abertos, dispostos em um círculo espaçoso ao redor da turma que ainda não terminara. A Wonder pensou em sair da sala como em qualquer outro dia, mas ao vê-los sorrir quando a menina terminou, acabou se levantando e tomando lugar na roda, esperando -assim como os colegas- até que o ultimo aluno tivesse completado o exercício.
Quando saíram juntos da sala, todos possuíam um sorriso que ia de orelha a orelha. Formandos, por assim dizer.