Aula da Pandora

~~~ A sala de aula ~~~
Assim que a garota atravessou a soleira da porta da sala de aula, outrora indicada como novo local de treinamento, uma ruga de preocupação formou-se em sua testa, cogitando a hipótese de um atraso. O pensamento não durou muito, já que ao olhar para as carteiras que estavam ocupadas pode verificar a presença de míseros 5 ou 6 alunos, que conversavam entre si enquanto a mulher de cabelos loiros e katana na mão os vigiava com um tom paciente. A imagem fez com que novos  pensamentos surgissem na mente da jovem, que chegou a por na balança a possibilidade de aquela não ser, sequer, a professora. Não que a moça não possuísse aparência para tal, mas desde que a Wonder entrara não a havia visto pronunciar nem mesmo uma palavra, o que não parecia muito educacional. Mesmo à frente da questão, Pandora a cumprimentou com um aceno de cabeça, sorrindo cordial antes de se dirigir até o fundo da sala, ignorando os desconhecidos que estavam ali e sentando-se em uma das ultimas carteiras, concentrando-se em simplesmente olhar para frente.
A menina, que já estava há um tempo bom na Terra, não era muito de puxar assunto, o que tornava novas amizades quase impossíveis caso dependessem de sua parte. Por um lado isso a fazia parecer anti-social, mas em momentos como aquela aula, ajudavam-na a ter melhor concentração... Melhor: ajudariam. A jovem Panda se perdia nas conversas alheias, usando de suas habilidades para ficar 'por dentro' das novidades do instituto, ouvindo com atenção o assunto do dia. Não era a primeira vez que fazia isso, mas dessa vez realmente se prendeu nas conversas.
Talvez por isso a menina tenha se surpreendido tanto quando a loira que estava a frente da turma começou a falar. Pandora pareceu voltar ao mundo real, notando só naquele momento o quanto a sala havia enchido e precisou piscar algumas vezes para retomar o foco: a imagem parecia embaçada após tanto tempo vidrada em um lugar só.  Seus olhos assumiram um azul cristalino, mostrando sua concentração, e suas mãos se agarraram à borda da mesa mesa com certa ansiedade. Era sua primeira aula no instituto, então tinha certo receio quanto aos métodos de aprendizado. Ter a mente invadida não era bem o plano da manhã, apesar de parecer inevitável.

~~~ Elizabeth e as explicações ~~~
Em um primeiro momento, tomada pela surpresa inicial, Pandora teve certa dificuldade para assimilar as palavras, perdendo o cumprimento da professora e pegando apenas informações selecionadas como o nome da mulher e algumas explicações básicas sobre as aulas. Aparentemente teriam 3 aulas como aquela, ganhando certa habilidade conforme fossem treinando e tudo se resumiria a controlar a própria mente. Aos poucos Panda foi se acostumando com o ritmo de fala e informações lançados por Elizabeth, tornando a compreensão um pouco mais fácil, não tendo que escolher as instruções que iria guardar. Seus olhos de cristal estavam pregados na loira, que vez ou outra andava pela sala durante pausas curtas de sua fala ou se sentava frente a turma para um breve descanso.
A mulher parecia determinada a realmente explicar o que estavam fazendo antes de passar para a prática, o que tornou um pouco mais simples assimilar a matéria, fazendo com que os alunos tivessem certa noção do que precisariam fazer: Fortalecer a mente, palavra chave de toda o conceito.
Pandora estava tão concentrada em ouvir o que a moça falava que passou de olhá-la para simplesmente acompanha-la com os olhos, tentando formar na própria mente um tipo de diagrama com as idéias mais importantes. Sua desatenção em relação ao sentido de visão se tornou claro quando Elizabeth sentou-se novamente, deixando seu poder fluir sobre os alunos, o que fez uma aura rosada com forma de borboleta sobressair na frente de seu rosto. Pandora se quer notou, assustando-se com a dor de cabeça assim que esta a atingiu, trincando os dentes e varrendo a sala com os olhos pela segunda vez naquela manha, precisando de alguns segundos para perceber que o poder emanava da loira que ditava explicações.
Os lábios da menina entreabriram, deixando o fôlego fugir em uma lufada de incredulidade. Estava tão desatenta naquela dia que manter o foco em um único sentido significava perder os outros. Maneando a cabeça negativamente, Pandora pareceu decidida a reconciliar, dividindo a atenção entre a visão e audição, contraindo os lábios em uma linha fina de desgosto por si mesma: esperava mais do que aquilo.
A verdade é que a ansiedade atrapalhava a Wonder mesmo nas tarefas mais simples, mas ao invés de reconhecer aquele friozinho na barriga, Panda se tornou decidida a  culpar as próprias habilidades, deixando um azul escuro e intenso tomar seus olhos antes tão cristalinos.

~~~ O círculo ~~~
Elizabeth havia solicitado a ajuda dos alunos para afastar as cadeiras, o que Pandora fez de bom grado. A 'invasão' inicial havia deixado a menina curiosa, apesar do sentido de culpa que surgira por não ter visto a aura rosada que a mulher apresentava enquanto punha os poderes em prática.
A loira sentou-se no chão, cruzando as pernas e instruindo, mentalmente, que os alunos fizessem o mesmo. Não precisou pedir duas vezes. Em poucos segundos toda a turma toda passou a se dispor em um círculo meio deformado, tendo por início a professora de defesa mental, olhando uns para os outros com curiosidade, tentando ver qual seria o primeiro a conseguir bloquea-la. Um ou dois alunos fecharam os olhos, voltando a abri-los em questão de segundos, aparentemente assustados. A turma se entreolhou, aos poucos seguindo o exemplo dos dois 'desbravadores',  e por fim Pandora se rendeu. Seus olhos azuis e intensos se fecharam lentamente enquanto ela controlava a própria respiração, tentando torná-la o mais calma possível. Satisfeita com o resultado passou a se concentra unicamente na própria mente, deixando que a torrente de imagens viesse antes de tentar impedi-las.

~~~ Invasão ~~~
Com os olhos fechados e a concentração voltada para a própria mente, Pandora pode ter a sensação esmagadora de estar sendo vigiada. Não vigiada pelos seus 'colegas' de classe, mas vigiada por dentro, como se as memórias fossem compartilhadas. Suas mãos se fecharam em punhos no próprio colo e seus dentes trincaram pela  concentração exaustiva, precisando de apenas mais alguns instantes para ver a torrente de imagens e palavras soltas voando por sua mente.
"Não quero!" "Você irá" "Adeus" " É o seu quarto" " Um presente" - Aa palavras, jogadas com pequenas imagens e memórias, invadiram sua cabeça, deixando-na rapidamente assustada, fazendo com que a garota abrisse os olhos repentinamente, obrigando-a a retomar o fôlego antes de voltar a se concentrar.
_Não pensem na memória que está a tona... - Instruiu a invasora.
Panda voltou a fechar os olhos, não conseguindo evitar que uma pequena pontada de imagens voltasse a aparecer antes que ela pensasse em outras coisas.
Em um primeiro momento não houve qualquer efeito, mas aos poucos as imagens do passado era cortadas por pensamentos incoerentes e aleatórios.
_Saia. - Tentou mentalmente, pronunciando as palavras sem muita firmeza.
A invasão pareceu ficar mais intensa, jorrando palavras com maior velocidade, procurando por algo que pudesse usar. Pandora apertou os lábios em uma linha fina, estreita.
_ Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais. Três elefantes incomodam muita gente, quarto elefantes incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito maais... - Começou a cantarolar mentalmente, fazendo a imagem de elefantes rosas cortarem as lembranças jorradas, concentrando-se na música com vontade. - Cinco elefantes incomodam muita gente. Seis elefantes incomodam, incomodam, incomodam... - Continuou com a cantoria mental, falando cada vez mais alto, fazendo com que os elefantes rosas aparecessem com mais freqüência.
Aparentemente a cantiga não agradava ninguém, já que a pressão em sua mente começou a diminuir, auxiliando na aparição de elefantes rosas até que estes formassem quase um videoclipe perfeito. Pandora sorriu com escárnio, berrando a música mental até sentir que a guarda da invasora estava mais baixa, aproveitando para tentar fazê-la sair.
_Saia! - Exigiu, tendo um pouco mais de força na voz, não conseguindo expulsar a mulher de poderes superiores, mas deixando claro sua determinação.
Satisfeita com o desempenho da aluna, Elizabeth a liberou, trazendo para a mente de Pandora um alívio imediato, deixando seus pensamentos em branco por alguns segundos.
A garota, exausta pela pequena disputa mental, abriu um sorriso largo, varrendo a sala com os olhos. Alguns alunos haviam saído, outros ainda tentavam expulsar a instrutora, mas ainda haviam aqueles que terminaram a atividade e ficaram para assistir. Mais alegre que o normal, Pandora se levantou rapidamente, cumprimentando os que a olhavam com um gesto rápido de cabeça antes de sair da sala, sentindo-se a pessoa mais especial do mundo, apesar de não ser bem essa a realidade.