1ª Aula - Philip Montini

O dia estava ensolarado, no céu de tonalidade azul clara, varias nuvens tão brancas quanto o leite; dançavam sobre o vento refrescante e revigorante da manhã. A luz solar judiava de meus olhos, não tinha talvez mais do que meia hora que eu estava acordado, e já estava de pé; diante dos jardins daquela luxuosa mansão. Vários alunos estavam presentes, todos mutantes assim como eu. Trajado com uma blusa branca com um “X” negro no peito esquerdo, uma calça de ginástica e tênis confortáveis; estava bem ao lado de Thomas.

O garoto que tinha conhecido no jato daquela Instituição, justamente quando o professor Charles Xavier me resgatou; parecia querer se desculpar comigo por causa de suas piadinhas recentes. Buscando sua redenção, ele mesmo no ontem tinha me avisado sobre essa aula; aula que parecia ser bastante interessante por sinal. Física dos poderes, não poderia ser mais perfeito; eu aprenderia a controlar aqueles dons sobrenaturais, que aquelas pessoas insistiam em falar que eram poderes mutantes, e física; minha matéria favorita.
Xavier estava sentado em sua cadeira de rodas, diante de toda a classe; uma visão que poderia ser até um pouco cômica, graças a uma dúzia de violetas e tulipas que estava ao lado do homem.

Em meio ao gramado, três maquinas podiam ser vistas. Não me recordava qual era a função delas, muito menos o que elas faziam; ter sido criado em um orfanato às vezes privava bastante meu conhecimento sobre o mundo. Nosso instrutor imediatamente começou a falar, recebendo como resposta um coro não muito animado de “Bom dia”; afinal muitos não estavam realmente entusiasmados por terem acordado cedo.
Querendo prestar atenção, e ao mesmo tempo lutando contra a preguiça matinal que assolava meu corpo; ouvi cada detalhe do que nosso mestre falava. Consegui me entusiasmar ainda mais quando ele disse sobre o fato das leis da física poderem ajudar no controle de nossos poderes; aquela vertente de estudo com certeza deveria ser fascinante.

Mas por outro lado, ao ouvir o homem dizer que nossos poderes derivavam de nossas emoções, e quanto mais controlasse elas, mais conseguiríamos controlar nossos poderes; acabei desanimando um pouco. Como alguém como eu, que por castigo do destino sempre perdi as pessoas que amei, sempre fui vitima de acidentes que levaram meus entes queridos ; como alguém assim consegue se controlar totalmente? Muitos eram os pesadelos que eu tinha, e mesmo com as periódicas sessões de tratamento feitas com o Professor X, aquelas lembranças de minha vida ainda me assolavam diariamente.

Acabei sendo despertado de minha viajem mental, apenas quando o professor chamou a nossa atenção, para que observássemos as maquinas que estavam sobre o gramado. Agora enfim eu sabia para que aquelas maquinas serviam, treinar jogadores de tênis. Torcia para que não precisássemos praticar aquele esporte pela manhã. Nunca tinha sido muito bom com esportes, e algo me dizia que aquela experiência nova poderia ser ainda mais desastrosa durante a manhã, com parceiros que possuem poderes e estão sonolentos.

Eu provavelmente estava ficando louco, ao escutar qual seria a verdadeira função daquelas maquinas para nossa aula, fiquei bastante fascinado. No mesmo instante senti faíscas se formarem em minhas mãos, precisava me concentrar ao máximo; acho que ninguém precisava de um acidente elétrico para deixar as coisas mais interessantes. Já tinha alguns dias que eu estava naquela bela mansão, mas ainda não tinha conseguido fazer amizade com ninguém, não sabia nem ao menos se eu queria aquilo. Minhas ultimas experiências com envolvimento sentimental, fizeram apenas as pessoas ao meu redor sofrerem (ou morrerem, tanto faz); não estava a fim de arriscar a vida de mais ninguém.

Achando melhor começar a pensar um pouco sobre aqueles mecanismos, e me “isolando” com o intuito de fazer a parte pratica de minha aula mais solitariamente, encarava as maquinas. As palavras de Charles despertaram meu cérebro, me recordava muito bem sobre os conceitos físicos, e como os corpos tinham padrões de movimentação ao saírem da inércia, desde que alguma força os obrigassem a sair do estado de repouso.

Sentindo-me preparado, dei dois pulinhos para “acordar” todos os  músculos de meu corpo, respirei fundo e esperei a primeira maquina ligar. Após a primeira bolinha ser lançada na direção da classe, alguns sorriram; já outros tentavam entender de fato o que deveriam prestar atenção sobre a bolinha. Já eu apenas observava e me mantinha um pouco mais afastado da linha de tiro. Após pelo menos oito bolinhas voarem em nossa direção, mas com tempo o suficiente para esquivarmos, mesmo com a dificuldade de não estar portando um relógio, sabia mais ou menos o tempo que a maquina estava levando para efetuar os disparos. Segundo a minha contagem mental, o intervalo entre um lançamento e outro era de mais ou menos, quatro segundos, tendo em vista ainda que o bico da maquina fazia um movimento horizontal no sentido oposto ao que estava; de maneira a atirar sempre uma bolinha em cada direção.

Não fazia ideia qual era a força daquele disparo, e algo me dizia que eu realmente não gostaria de saber. Com o canto de meus olhos, vi que um de meus companheiros de aula tinha sido acertado. Ele levava a mão até a testa, onde um pequeno galo começava a crescer.

Mantendo-me um pouco afastado da “ação” daquela primeira parte, observei que provavelmente a maquina funcionava por impulsão, de forma que um gatilho interno deveria ser acionado por um sistema temporal, dando impulso para a bolinha ser lançada. O objeto esférico por sua vez, fazia uma trajetória no formato de arco, sendo atirada com uma inclinação para cima, e sendo puxada para o solo pela força da gravidade.

Aquela movimentação pouco variava, devido ao fato da maquina possuir sistemas de contagem perfeitos. Aquilo não seria um grande desafio para um grupo de humanos poderosos, ou como gostavam de falar, de mutantes; exceto por um simples fator. Não seria apenas uma maquina a atirar contra nós, e sim três; o que dificultaria bastante a nossa situação. Aquilo significava que eram três direções diferentes para as bolinhas, já que a maquina possuía três tempos, atirando uma bolinha quando chegava no centro de sua rotação, e uma quando chegava em cada uma de suas extremidades. Três direções, tempos variantes já que as maquinas não seriam ligadas exatamente no mesmo tempo; algo que realmente poderia complicar nossa vida.

Ao ver o professor Xavier se aproximando para ligar as demais maquinas, resolvi me concentrar um pouco mais; o verdadeiro desafio iria começar. “Eu preciso apenas de me defender”, era o que eu dizia para mim mesmo, mas sabia que aquilo poderia não ser tão fácil quanto aparentava ser, nunca era. Ao serem acionadas, as duas maquinas restante começaram a entrar em movimentação, como previsto, lançando bolinhas em direções diferentes e de modo a não importar tanto a temporização; o intervalo de um disparo para o outro, em relação as três maquinas, seria variado de maquina para maquina, de forma a sempre ter uma bolinha sendo disparada.

Tentando me concentrar para produzir pelo menos um pouco de eletricidade em minhas mãos, acabei sendo acertado por uma daquelas “pelotas” amarelas. Instantaneamente a eletricidade circulou pelo meu corpo, de modo a deixar faíscas saindo de minhas mãos. Olhei para elas admirado, meu controle sobre aquele dom não era nada perfeito, mas demonstrava que aos poucos eu estava conseguindo evoluir. Olhando rapidamente para o lado, vi uma garota usando o ar para modificar a rota pela qual algumas bolinhas se dirigiam, já Thomas usava um pouco de água para criar uma espécie de chicote liquido; com o qual afastava as bolinhas para longe de si.

Muitos foram os anos que tinha trabalhado nas indústrias Bollotinni, consertando maquinarias; não seria uma daquela espécie que me derrotaria. Tentando me defender, forçava meu pensamento no desejo de lançar um pouco da eletricidade de minhas mãos na direção das bolinhas, mas nada acontecia. Com o passar dos minutos, estava começamos começando a sermos atacados por uma verdadeira chuva de bolinhas amarelas “assassinas” e bastante duras. Minha concentração estava ficando cada vez mais comprometida, e quando finalmente consegui lançar uma rajada de eletricidade, ao invés de acertar um dos objetos no qual eu tentava mirar, quase acertei a cabeça de um garoto; que me olhou um pouco mal humorado.

Tentei pedir desculpas com um gesto, mas fui atrapalhado por duas bolinhas que acertaram meu peitoral. Pelo reflexo de meus movimentos, coloquei minhas duas mãos na frente de meu corpo; eu sabia mais ou menos o tempo de lançamento de cada bola, mas naquele momento aquilo já não importava, a velocidade das maquinas parecia estar aumentando, e já não era mais praticamente possível definir qual seria o próximo movimento do bico das maquinas, ou aonde a próxima bolinha apareceria. Com meus olhos fechados, não entendi completamente o porquê não tinha sido alvejado por aqueles objetos redondos, conseguindo compreender apenas após reabrir os órgãos que me permitem enxergar.

Um campo elétrico estava formado em minha frente, de forma que as bolas não estavam conseguindo ultrapassar a barreira de energia. O “escudo” ia de meus joelhos até pouco acima de minha cabeça, de forma que meu corpo estava completamente protegido. A aula parecia estar esquentando, meus colegas mutantes pareciam estar dando tudo de si, e até mesmo pareciam desejar realmente destruir aqueles equipamentos. Ficar encarando o escudo que eu mesmo tinha projetado, sabe se lá como, demonstrou ter sido uma péssima ideia. Quando uma das circunferências acertou o escudo na direção de meus olhos, acabei me assustando.

Após me recompor do susto que tinha levado, me levantando do chão já que eu tinha agachado, vi que algo estava diferente, ou talvez errado. As maquinas haviam se desligado, os alunos olhavam em minha direção, e de meu corpo para o professor Xavier e as maquinas. O chão gramado estava coberto de bolinhas amarelas, nem ao menos pude contar quantas tinham sido atiradas contra minha classe. Com uma voz um pouco simpática e entusiasmada, o Professor X deu a aula por encerrada, estávamos livres para voltarmos para dentro da mansão; tomar um banho e descansar.

Em meio ao caminho de volta, não entendia os murmúrios entre os alunos, e tomando coragem; aproximei de Thomas e perguntei. – O que aconteceu no treinamento? Por que as maquinas pararam do nada? O rapaz apenas sorriu para mim. –Não reparou? Você sem querer acabou absorvendo energia por causa do susto que tomou; foi o suficiente para atrapalhar os circuitos das maquinas, e fazerem elas pararem de funcionar. Eu olhei apreensivo para ele. – Ma... mas como? Tudo bem, tudo bem; confesso que em alguns acidentes passados isso ocorreu, mas juro que não foi minha intenção. Aquele jovem homem apenas sorria, parecendo se divertir com aquela situação,que ao meu ver era seria. – Relaxe man, aposto que o Xavier ficou muito satisfeito com isso; sabe, não é todo dia que algum mutante sai por ai desligando os aparelhos dos treinamentos. Acredito sinceramente que essa seja uma forma, talvez inusitada, de se terminar uma das aulas. Ele apenas se calou, deixando que eu me afogasse em meus pensamentos, andando lado a lado comigo até a entrada do casarão afortunado. Aos poucos pensava em tudo o que tinha acontecido, no que eu poderia tirar de lição para mim, e como aquela aula realmente poderia modificar algumas vertentes do meu modo de pensar. Querendo apenas tomar um banho para relaxar, deitar ou sentar em algum lugar e pensar, rumei em direção ao banheiro deixando todos para trás; tinha acabado de terminar minha primeira aula naquela Instituição “diferente”.

Poderes utilizados nível 1:

Pericia utilizada:

OBS: