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Aula 4º Brian Valentine

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Mensagem por Baron Ter Jun 10, 2014 2:43 pm

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O sol nasceu com força e vigor. Brilhava e lançava, sobre todos naquele planeta, seu calor e beleza. Eu havia dormido muito pouco na noite passada, resultado de uma febre bastante forte, mas que havia cedido, graças aos cuidados de Clémence e alguns professores. Me sentia melhor, mas ainda não estava pronto para me lançar de cabeça em outra aula do professor Deadpool. Ainda sentia raiva dele pelo que fez ao meu tesouro.
"Ele ainda vai me pagar caro pelo que fez cm meu cordão. Não vou esquecer disso, professor..." - pensava, enquanto tentava afastar o sono de meu corpo.

Graças a aula de sobrevivência em águas poluídas, eu havia pego uma séria infecção. Como desmaiei devido a falta de oxigênio no meu corpo, ingeri muita água e um pouco dela foi para meus pulmões, resultando na, já mencionada, infecção. Fiquei muito tempo internado na enfermaria do instituto, aguardando melhoras e resultados positivos. Foi difícil, mas acho que consegui ser aprovado naquela aula, afinal, eu não deixei de lutar pelo que me era importante em nenhum momento.

Clémence e Myers vinham me visitar constantemente. Clémence e Myers eram da classe de física dos poderes, que se chamavam Paragões. Vinham me visitar sempre que podiam. Clémence me trazia várias guloseimas e ficava horas contando tudo o que eu estava perdendo de "interessante" no instituto. Myers também contava algumas histórias e rumores, me deixava informado. Eles eram bons amigos. Um dia, quando foram me visitar, uma conversa inesperada surgiu.
- O que pretende fazer quando se formar, Brian? - perguntou Clémence, despretenciosamente - Sabe que quando um aluno se forma, ele deve escolher o caminho que quer seguir. Se ficar aqui, vai se tornar um X-men e pode até ser um professor. Se escolher outro caminho, terá que abandonar o instituto... - sua voz foi sumindo, como se temesse pela minha resposta. Myers nada disse, apenas observava e aguardava pelo que viria com o tema daquela conversa.

Pensei por alguns instantes. Não sabia realmente o que queria. Nunca tinha parado para pensar nisso, mas, agora que Clémence havia tocado no assunto, eu percebi que só faltava mais uma aula para que eu pudesse me formar, e eu não tinha nenhum plano para o meu futuro.
- Eu sinceramente não pensei nisso ainda, Clémence. A única coisa que anseio mais do que tudo é mudar. Eu quero mudar interna e externamente. Não quero mais sofrer pelo meu passado, muito menos pelas consequências dele -percebi que enquanto falava, começava a chorar. Era como se eu estivesse me livrando de um enorme peso, e poder confiar em meus amigos era algo reconfortante. Algo que eu não experimentava havia muito tempo.

Com calma, contei minha história para eles. Desde o começo. Desde minha infância, até a mudança de casa, o nascimento de Jolee, o despertar de meus poderes, o acidente, eu contei tudo detalhadamente. Se eu queria tanto assim mudar, era importante que eu conseguisse falar abertamente sobre aquilo. Era importante que minha história não me fizesse sofrer mais.

Clémence e Myers pareciam chocados quando terminei de contar minha história. Parecia que eu havia tirado um enorme peso de minhas costas, mas a que preço? Eu não sabia dizer. Longos minutos de silêncio se fizeram presentes na enfermaria, foi Myers quem o quebrou.
- Foi um acidente, Brian. Você não pode se culpar por isso. Você deve seguir em frente agora. Eu estou contigo - ele sorria, enquanto me confortava. Clémence demorou para falar, mas suas palavras foram bastante parecidas com as de Myers. As lágrimas se acumularam e jorraram dos meus olhos. Nunca poderia imaginar que alguém pudesse estar do meu lado naquela história toda. Eu tinha bons amigos, isso era verdade.

Naquele dia fizemos uma promessa. A promessa de sempre ir de auxílio ao outro, caso este estivesse em perigo ou com problemas. Aquela era minha nova família. Ter alguém por quem lutar era algo que me dava muita força e determinação para continuar minha luta pessoal.
- Sabem, acho que vou andar por ai quando me formar - disse Clémence, se esparramando em uma cadeira - Eu não quero mais ficar no instituto. Acho que chegou a hora de conhecer o mundo e ter minhas próprias experiências, longe de tudo o que me dizem. Quero viver minhas experiências. - ela dizia aquilo com determinação e esperança.
- Acho que vou ficar no instituto por um tempo. Sinto que posso ajudar em muitas coisas por aqui. Fazia muito tempo que eu não chamava um lugar de lar, mas, pra mim, o instituto é o meu lar. A verdade é que ainda não estou pronto para deixá-lo. Quem sabe um dia, mas não agora. - Myers também parecia decidido. Todos eles tinham grandes planos para o futuro, menos eu. Será que eu iria permanecer no instituto ou iria sair e descobrir uma nova maneira de viver?

Agora, estava indo em direção ao hangar do instituto. Ainda não sabia o que eu queria para meu futuro, mas tinha esperanças de conseguir descobrir até o final do meu curso de sobrevivência. Enquanto seguia para o local da minha última aula, pensava no assunto. Comecei a pensar em tudo que eu queria para mim, em tudo que havia passado ali, ou seja, pesava conscientemente as experiências boas e ruins.

O hangar do instituto era enorme. Eu tinha pena de quem limpava aquele lugar. Vários veículos aéreos estavam estacionados ali, tais como helicópteros, jatinhos e, bem no centro do hangar, estava um grande jato de cor preta. Ele parecia ser muito potente e rápido.

Alguns alunos já haviam chego para a última aula. Pouco menos de dez pessoas. Talvez umas oito. Um número bem grande, já que esse curso era um dos mais difíceis do instituto. Pude notar que o rapaz da segunda aula já não estava ali, o que queria dizer que ele não aguentou a pressão do curso e desistiu. Talvez tenha sido o melhor pra ele, pois ele não tinha muito instinto de sobrevivência, poderia acabar morrendo.

O professor Logan estava sentado perto de um enorme jato. Fiquei curioso sobre o que iríamos enfrentar, pois ele era temido por dar aulas muito difíceis, chegando a ser piores que o professor Deadpool. E foi na aula do professor Logan que o Jimmy morreu. Quando mais dois alunos chegaram, o professor se levantou e começou a explicar o motivo de estarmos ali e tudo o que precisaríamos saber para realizar a última aula do curso.

Parecia loucura nos largar em uma ilha repleta de animais, teoricamente, extintos. Engoli em seco e tentei imaginar a situação em que estava me metendo. Olhei para minhas roupas e fiquei aliviado por estar usando roupas leves e que poderiam ser facilmente repostas. Meu vestuário era composto de tênis, calça comprida e camisa de manga. Estava começando a ficar nervoso. Aquilo, com certeza, ia além de tudo que eu pudesse imaginar sobre a última aula de sobrevivência.

Embarcamos dentro do jato ordenadamente. Seu interior era ainda mais bonito do que o exterior. Repleto de equipamentos de última geração. Não pude deixar de ficar encantado com tudo aquilo. Me sentei em uma confortável poltrona e tentei me manter calmo, afinal, eu precisava me manter calmo ou não iria durar muito naquela ilha. Depois que todos conseguiram se acomodar nas poltronas e colocar os euqipamentos de segurança, iniciamos nossa viagem.

Parecia que o jato não estava voando. Ele era silencioso e quase não se movia. Poderia dizer facilmente que os pequenos movimentos do jato eram causados por nós mesmos.
"Espero que eu consiga me ser aprovado nessa aula. Ela parece ser mais difícil do que enfrentar polvos, ou caçadores com armas de tinta" - pensei, enquanto me aproximava cada vez mais de meu destino.

A ilha era bem grande. Era quase impossível de ver seu chão, pois a vegetação era alta e bastante exótica. Recebi meus equipamentos, um para-quedas e então, após colocar o para-quedas, guardei o resto dos equipamentos em um cinto que também nos foi fornecido. O jato agora dava voltas ao redor da ilha. Era chegado o momento de desembarcarmos. Um por um, pulamos do jato em direção aquela ilha estranha. Era obrigatório dar cerca de cinco minutos de intervalo entre um auno e outro que pulava do jato, para que assim a distância entre nós fosse a maior possível. Eu fui o décimo a pular do jato.

Abri o para-quedas poucos segundos após pular do jato. Meu coração batia acelerado. Não demorei muito para cair na ilha e ficar preso em uma grande árvore, repleta de galhos nodosos.
"Só pode estar de brincadeira. Minha sorte já me abandonou e não tem nem um minuto que pisei nesta ilha" - pensei, enquanto usava a minha faca para cortar os arreios do para-quedas. Terminado isso, eu cai em cima de um galho, então, veio a árdua tarefa de descer da árvore, que tinha vários metros de altura.

Coloquei meus pés no chão e senti o odor daquele lugar. Ele cheirava a sangue, mato e terra molhada. Basicamente tinha o cheiro de uma selva normal. Olhei ao redor. Agora estava em um território onde qualquer coisa poderia acontecer. Meus colegas de classe eram meus inimigos ali também e, embora não pudesse matá-los, se ficarem no meu caminho ou me colocarem em risco iminente de vida, não hesitarei em descartá-los.

Corri em direção ao que achava ser o leste. O sol, embora estivesse quase em seu ápice, ainda estava um pouco inclinado no céu, o que poderia me garantir um pouco de direção.
"Orientação, fogo, abrigo, água, alimento e cuidados com o corpo... - lembrava da primeira aula do professor Logan como se a estivesse vivenciando naquele momento.

A primeira coisa que fiz foi procurar orientação e abrigo. Tentei vasculhar um pouco da ilha para conseguir me familiarizar com o local. Marcava o tronco de algumas árvores com um "B", para que assim eu soubesse que já estive por ali. Enquanto caminhava a procura de algo para usar como abrigo, senti alguns tremores no solo. Rapidamente me escondi atrás de uma árvore grande e, aparentemente, resistente, com um arbusto igualmente grande. Camuflado no arbusto eu fiquei a observar o dono de tal tremor. Não consegui vê-lo, mas ouvi claramente os gritos de alguém. Pelo som grave, parecia ser um homem.
" Acho que agora somos uma turma de onze alunos" - pensei, enquanto esperava o tremor parar.

Quando os abalos cessaram, sai de meu esconderijo e continuei minha caçada por ago que pudesse me oferecer algum tipo de abrigo. Por sorte ou pela mão do destino, consegui encontrar uma árvore muito alta, que levava até uma parte de uma montanha, que ficava localizada na parte central da ilha. Naquele momento eu estava no pé da montanha. Seria muito arriscado ir pela trilha tradicional, então, decidi ir escalando a árvore. Demorou algum tempo, mas, quando cheguei em uma parte considerável da ilha, consegui ver que ele me deixaria próximo do que seria uma pequena caverna. Aumentando o tamanho de minhas pernas, dei um grande salto, conseguindo cair naquela plataforma sem maiores problemas. Analisei rapidamente o que estava ao redor daquele esconderijo perfeito. Aparentemente não havia meios seguros de chegar até ali, pois a caverna ficava em um elevado da montanha por onde não tinha como chegar, se não através da árvore.
"Isso é perfeito. Perfeito demais... - pensei, desconfiando de tal local privilegiado.

Adentrei a caverna e percebi que era pequena. Não caberia mais do que duas pessoas. Ela se embrenhava muito mais para o interior da caverna, mas, como à medida que seguia mais para seu interior mais escuro ficava, resolvi me manter somente no início da mesma. Ali deixei minha lata de feijão, os fósforos e a mochila, que seria útil depois. Após isso veio a árdua tarefa de dificultar ao máximo a chegada de invasores. Aumentei o tamanho de meus braços e com golpes fortíssimos, destruí os galhos mais próximos de meu abrigo, com isso, esperava dificultar ao máximo a chegada de alguém ou alguma coisa ao meu abrigo. Logo após isso, peguei os galhos quebrados e os juntei, então, amarrando-os com suas próprias folhas, fiz uma espécie de porta. Como a madeira era grande e pesada, dificultaria ainda mais para os invasores entrarem ali. Graças ao meu aumento corporal, eu conseguiria movê-la sem maiores problemas. Salvei um pouco de madeira para usar como lenha e, assim, havia conseguido três dos seis itens principais para se sobreviver em ambientes hostis.
"Orientação, abrigo e fogo. Já tenho os três. Falta a água, alimento e cuidados com o corpo" - pensei, enquanto guardava tudo dentro da caverna e a selva com a "porta" de madeira. Para descer, usei novamente meu aumento corporal nas pernas, o que me permitia dar saltos muito mais longos, fazendo com que eu me agarrasse no tronco da árvore e já não precisasse mais dos galhos que quebrei.

Novamente em meio a selva, me concentrei dessa vez em procurar água e comida. Encontrei algumas frutas ou sementes que cresciam em algumas plantas finas e pequenas, bem próximas ao chão. Tinham coloração forte e chamativa, o que poderia não indicar coisa boa.
"Plantas, animais ou frutas com cores ou formas chamativas devem ser evitados, pois podem ser agressivos e venenosos" - pensei, enquanto lembrava de um capítulo de um seriado de TV que havia assistido a alguns meses. Deixei as frutas pra lá e me concentrei em procurar água novamente.

Quando caminhava próximo a uma área já visitada, decidi que iria enveredar por outro caminho, ao invés de seguir pelos que já havia percorrido. Foi nessa caminhada que eu os vi pela primeira vez. Estavam próximos a um pequeno riacho, cuja água corria com força, mas não em quantidade abundante. Eles passavam de quarenta facilmente. Eram pequenos, bem mais do que a maioria dos seres que eu já tinha visto. Não sabia seus nomes, mas o melhor que eu tinha que fazer, naquele momento, era me esconder.

Dito e feito. Achei um arbusto para me esconder dos dinossauros. Eu nunca poderia imaginar que o professor Logan estivesse falando a verdade. Parecia meio insano acreditar que seres que haviam sido extintos a milhões de anos, estivessem povoando uma ilha escondida de tudo e de todos, mas eu devia saber bem que o mundo em que eu vivia era louco e repleto de surpresas.

Esperei pacientemente até que os pequenos dinossauros fossem embora, contudo, quanto mais eu esperava, mais deles chegavam. Foi então que resolvi demarcar o local e voltar mais tarde. Novamente, marquei um grande "B" em uma árvore próxima e então me afastei, foi nesse momento que acabei pisando em um galho e fazendo um grande barulho. Todos os pequenos dinossauros pararam de beber água e olharam ao redor. Fiquei parado e me agachei, pois assim, talvez, eles não me identificassem tão rápido. Infelizmente a minha sorte não estava mais do meu lado, pois um dinossauro desgarrado estava me observando o tempo todo e emitiu uma espécie de chamado especial. Todos os outros olharam para mim e começaram a andar lentamente na minha direção.

Meu coração disparou. Não sabia o que fazer. Parecia que tudo o que eu havia aprendido tinha sido esquecido no momento em que fora visto. Já não conseguia respirar direito. Dessa vez era sério demais. Se eu morresse, estaria tudo acabado.
"Tenho que fazer alguma coisa... eu preciso fugir!!!" - pensei, mesmo que meu corpo não me obedecesse.

Apenas quando os dinossauros começaram a correr na minha direção foi que eu tive forças para começar a correr. Não sabia para onde estava indo, apenas queria me ver longe daqueles bichos estranhos. Tentei correr o mais rápido que pude. Passava por muitas árvores que nunca tinha visto, bem como plantas, arbustos e trilhas. Para meu azar, as criaturinhas eram rápidas e começaram a se aproximar de mim e me morder nas pernas. Alguns subiram nas árvores e pulavam em cima de mim, me arranhando no rosto e no tórax. Rasgaram um pouco minha calça e minha camisa, no processo.

Eu estava desesperado. Nunca havia acontecido isso em toda a minha vida. Eu estava vendo tudo como um sonho. Um sonho muito real, mas que me faria acordar a qualquer momento. Quando dei por mim, estava subindo uma trilha íngreme. Não sabia onde iria dar, mas não podia me dar ao luxo de parar de correr. Continuei subindo, até que comecei a ouvir um barulho de água em grande quantidade. Eu estava em uma cachoeira.

Os pequenos dinossauros haviam me encurralado ali. Na enorme poça onde a água da cachoeira se acumulava, estavam várias pedras pontiagudas. Eu precisava decidir se pularia ou se enfrentaria meus inimigos. Não pareciam fortes, mas estavam em um número muito grande e isso poderia ser problemático.

Eles se aproximavam cada vez mais. Já sem muita opção, decidi pular da cachoeira e torcer pra não bater a cabeça e morrer. Usei meu mimetismo epidérmico para me transformar em rocha. Infelizmente meu salto não foi muito preciso, então, acabei por acertar a cabeça em uma rocha bem pontiaguda. O que me salvou a vida foi meus poderes e mesmo assim ainda sai com muita dor de cabeça e um inchaço do lado esquerdo, que eu torcia para não ser um traumatismo craniano.

Estava anoitecendo. Enchi meu cantil de água e voltei rapidamente para a selva. Logo iria perder a luz do dia e já não conseguiria enxergar direito dentro da selva, o que iria dificultar meu retorno para meu abrigo, no alto da montanha.

Minha cabeça doía demais. Já não conseguia enxergar direito. Por sorte, meus agressores tinham sido despistados, então, pude caminhar um pouco mais devagar. Meu corpo estava machucado e atraia toda sorte de insetos, em busca de meu sangue. Mosquitos começaram a me rodear e a me picar. Tentei afastá-los, mas não ficavam longe por muito tempo. Foi então que tropecei em uma raiz de árvore e cai em um lugar que mais parecia uma toca gigante. A queda fez meu corpo inteiro doer, inclusive minha cabeça. O lugar parecia bastante seguro. Era um enorme buraco, que havia sido esculpido, aparentemente, pela natureza. A árvore formava uma boa cobertura contra a chuva e possíveis animais perigosos. Me ajeitei por ali, procurando descansar. Já não conseguia quase manter a consciência. O dia havia acabado. Agora a lua se fazia imponente nos céus. O barulho da selva ficou cada vez menos barulhento, até que se tornou uma canção curta e entrecortada de pequenos sons produzidos por seres noturnos. Fechei os olhos e ali eu adormeci. O primeiro dia naquela ilha estava no fim.

Acordei no outro dia com dores por todo o meu corpo. Mal conseguia abrir os olhos. Minha cabeça ainda doía, embora em uma intensidade menor do que antes. Olhei ao redor e percebi que ainda estava naquela pequena toca, embaixo da árvore que havia encontrado. Ainda estava um pouco escuro, o que significava que era cedo ainda. Muito embora o lugar fosse muito bom, achei prudente sair dali e tentar voltar para o meu abrigo seguro.

Tive muita dificuldade para sair daquele buraco, pois meu corpo estava todo dolorido e eu tinha muita dificuldade para me mover. Olhei ao redor e não consegui reconhecer nada ali. Ontem, quando estava quase desmaiando, eu não me importei muito em analisar o que estava ao meu redor, então tudo passou despercebido. Agora, já conseguindo raciocinar corretamente, pude perceber que, embora pequenas, as diferenças daquele lugar eram imensas para a região onde eu estava. As árvores dali estavam sempre repletas de musgo nos seus troncos, seus galhos eram finos e quebradiços, as plantas eram mais rasteiras e tinham coloração e formatos diferentes. Parecia até que eu estava em outra ilha.
"Essa ilha é bem grande. Não teria como eu saber tudo o que se passa nela. Sem a menor chance" - eu caminhava lentamente, enquanto ficava um pouco entretido em pensamentos. Apesar de ser algo inútil para se fazer, me manter distraído com meus pensamentos era uma tática para tentar diminuir um pouco a dor, o que não estava funcionando.

Voltei a cachoeira. Não foi difícil fazê-lo, pois o barulho produzido por ela podia ser ouvido de longe. Tentei limpar meus ferimentos, que, diga-se de passagem, não eram poucos. Eu contabilizei cerca de quinze pequenas mordidas, todas próximas dos meus pés. Alguns arranhões nas costas, ombros e rosto. Achei mais prudente entrar totalmente na cachoeira, então, logo após me despir, eu o fiz. As feridas ardiam e sangravam, algumas estavam infeccionadas. Eu precisava de alguma coisa para cobri-los, mas não tinha nada que eu pudesse usar e eu não confiava nas plantas daquele lugar, então, tive que deixar as feridas abertas.

Depois de me banhar, lavar as feridas e me hidratar. Eu me vesti novamente e então fui em busca de comida. Caminhava por uma parte completamente desconhecida da ilha. O meu mapa estava molhado e os pontos demarcados nele já não se conseguiam ver com tanta facilidade.
"Culpa do meu mergulho de ontem..." - pensei, um pouco desapontado. Agora, com o meu mapa manchado, ficaria ainda mais difícil encontrar o local onde os professores estavam. O que significava que eu precisaria de muito mais sorte para sair daquela ilha inteiro ou vivo.

Depois de alguns minutos de caminhada, acabei por encontrar uma área da ilha onde a mata era menos selvagem e mais aberta. Como uma grande campina, muito embora a vegetação ainda fosse alta. Não me aventurei pela campina, mas mantive minha atenção nas árvores ao redor. Muitas delas tinham frutos e alguns deles estavam bicados e mordiscados por animais.
"Frutas comidas por outros animais são boas para comer..." - pensava, enquanto aumentava o tamanho de meus braços apenas para pegar algumas frutas avermelhadas no alto das árvores. Algumas dessas frutas pareciam muito com um cacho bem pequeno de uvas, porém, seu sabor era muito mais adocicado. Tinha umas que eram pequenas e tinham coloração vermelha, quase chegando no coral, estas tinham um sabor amargo, contudo, se estavam bicadas era porque podiam ser comidas.

Logo após minha refeição, tentei voltar a selva. Beirava a campina que eu havia encontrado a todo momento, pois seria muito mais fácil de visualizar o que me atacava se eu estivesse em um campo aberto. Foi nesse momento que ouvi gritos. Eram gritos femininos. Por mais que eu soubesse que era errado, fui até a dona daquela voz, correndo e, novamente, me embrenhando na floresta.

Não demorei muito para encontrá-la. Ela estava com um rapaz e, bem perto deles, estava um pequeno dinossauro, que abria uma espécie de nadadeira na cabeça e lançava sobre eles jatos de algo que parecia veneno. A moça criava barreiras invisíveis para se defender dos jatos, enquanto o rapaz transformava seu braço em fumaça e tentava fazer o animal desmaiar. As coisas estavam ruins para os dois, pois nada do que faziam parecia funcionar. O dinossauro era duro na queda.

Corri até eles e, sem a menor misericórdia, dei um chute com toda a minha força no tórax do dinossauro. Este grunhiu de dor e se afastou, correndo.
- Obrigada por nos ajudar. Meu nome é Sarah. Este comigo é o Kevin - disse a moça, sorrindo para mim e parecendo muito aliviada. Kevin me olhou e estendeu a mão, afim de me cumprimentar. Eu apenas acenei positivamente com a cabeça e continuei seguindo meu caminho. Para minha infelicidade, eles agora me seguiam.
- Nós estávamos tentando encontrar o melhor caminho para sair daqui, quando fomos emboscados por vários daqueles lagartinhos pequenos. Sarah e eu corremos e conseguimos despistar quase todos. Aquele ali que você atacou era duro na queda. Ele nos encurralou e acho que estaríamos mortos se não fosse você - pelo tom de voz de Kevin, ele não parecia tão agradecido quanto Sarah, apenas aliviado por continuar vivo.

Olhei ao redor. Não queria perder meu instinto de sobrevivência. Agora não poderia mais voltar ao meu abrigo secreto, pois não confiava naqueles dois e não sabia do que eram capazes. Caminhei e os levei para a cachoeira, onde puderam beber água. Dei a eles o que havia sobrado de minhas frutas. Eles comeram felizes por terem encontrado alguém que pudesse ajudá-los sem pedir nada em troca. Quando estavam plenamente saciados, voltamos a seguir caminho. Dessa vez eu precisava de algo mais do que apenas frutas para comer.
- Você sabe para onde está indo? Sabe o que devemos fazer agora? Nós queremos ajudar - ela suplicava por alguma resposta. Olhei em seus olhos e percebi que eram de um azul muito bonito. Ela tinha cabelos vermelhos como fogo. Seu sorriso era de um branco alvo e trazia beleza a qualquer lugar. Ela me lembrou alguém.
- Precisamos de mais alimentos e um abrigo onde possamos caber os três. Separem-se e procurem por qualquer coisa que possa parecer comida. Voltem para a cachoeira daqui a exatos trinta minutos. Contem até sessenta trinta vezes e depois voltem. Se não voltarem, irei deduzir que estão mortos e irei seguir meu caminho. - disse, olhando sério para os dois.

Eles compreenderam a seriedade da situação e então nos separamos para procurar provisões. Eu segui pelo norte, ou, ao menos, eu achava que era o norte. Sarah foi pelo sul e Kevin, pelo lado oeste. A cachoeira ficava a leste de onde estávamos. Comecei a procurar novamente por algo que pudesse ser comestível e me deparei com alguns coelhos, também procurando por comida. Com minha faca em mãos, me aproximei o mais sorrateiro possível do trio de coelhos ali presentes e então, aumentando meu braço direito, peguei os três com minha mão e sem demorar muito, os matei com minha faca. Levei de volta os coelhos, até feliz por ter conseguido uma boa caça.

Fui o primeiro a chegar na cachoeira. Sarah apareceu cerca de dez minutos depois e Kevin, cerca de vinte e oito minutos. Contei para ambos sobre o abrigo debaixo da árvore e como poderiam encontrá-lo, afinal, Por mais que fosse pequeno, era muito bom para se esconder de inimigos e passar a noite. Quando colocamos no chão o que tínhamos conseguido, olhei abismado para o que Kevin havia pego. Eram ovos. Grandes e esverdeados ovos. Foi nesse momento que Sarah e Kevin me renderam, me imobilizaram com cordas feitas de cipós. Logo uma expressão se desprezo e superioridade se esboçaram nas faces de ambos. Eles não eram o que diziam ser.
- Cara, você é muito burro mesmo. Vai ajudar pessoas que nem mesmo conhece? Deu informações sobre abrigo e locais onde podemos encontrar comida e água. Encontrar você foi mesmo muita sorte - ela ria com uma felicidade abismal. Kevin sorriu e se aproximou lentamente de mim. Faca em punho. Passou a lâmina pela maçã de meu rosto e me fez um pequeno corte.
- Você com certeza foi melhor do que os dois últimos que emboscamos. Eles eram tão ferrados que foi melhor deixar a floresta matá-los. A parte boa disso tudo é que conseguimos mais latinhas de feijão, cantis, fósforos e facas. Temos bastante equipamento agora. Não que você precise saber - ele dizia e andava em círculos, sempre gesticulando - Somente para desencargo de consciência, o que falei sobre os dinossauros nos emboscarem foi verdade. Só não podíamos contar que seríamos salvos por alguém tão estúpido. A gente poderia te soltar e deixar que a floresta te matasse. Quanto tempo você duraria sem equipamentos, em uma selva cheia de dinossauros? Porém, acho que seria melhor te matar e te deixar aqui mesmo. Os professores nunca iriam saber - ele agora falava como um verdadeiro psicopata.

Eu tinha que pensar em algo rápido. Olhei para tudo ao meu redor e não conseguia pensar em nada. Novamente eu estava em perigo. Estava para morrer. Kevin se aproximava de mim, segurando uma faca de caça bastante afiada e mantendo intenções muito objetivas. Foi nesse momento que minha atenção se recaiu nos ovos. Eram verdes e pareciam grandes demais para serem colocados por algum animal que eu conhecesse. Foi então que a ficha caiu. Estávamos em um perigo muito grande. Muito acima do exercido por Kevin.
- Você. Assassino. Onde pegou os ovos? - perguntei, olhando fixamente para o homem. Ele sorriu e deu uns tapinhas neles, como se fossem algum tipo de premiação que ele adorava exibir.
- Eu achei esses ovos em um ninho no chão. Deve ser de algum ganso ou pato. Só que não deveria estar preocupado com isso agora - ele retomava seu destino.
- Eu estaria pensando em fugir, se fosse vocês. Esses ovos não são de gansos ou de patos. São ovos de dinossauros. Julgando pelo tamanho, parecem ser de um dos grandes - olhei para Kevin e Sarah, respectivamente - Vocês são muito burros mesmo - sorri.

Não demorou muito para minha especulação se provar verdadeira. Um por um eles saíram de dentro da mata. Eram grandes. Deviam ter mais ou menos dois metros de altura, cada um. Se totalizavam em seis. Eram velociraptors, uma das espécies mais vorazes e velozes dentre todas as raças de dinossauros. Kevin se afastou lentamente. O terror estampado nos olhos. Ele sabia que sua lábia não poderia salvá-lo dos dinossauros. Sarah se afastou também, me abandonando. Usei o tempo que tinha para aumentar o tamanho de meus braços e me libertar das cordas, foi então que me afastei lentamente dos dinossauros.
- Eles querem os ovos e acha que estamos com algum deles, caso contrário, já estaríamos mortos. - disse, olhando para Kevin e percebendo que ele realmente tinha um ovo nas mãos.

Instintivamente o tirei de seu poder e o coloquei gentilmente no chão, me afastando logo em seguida. Quando os velociraptors viram que todos estavam ali, começaram a emitir um som alto e meio fanho. Era algo muito estranho de se ouvir. Todos eles estavam fazendo a mesma coisa e isso não poderia ser um bom sinal. Algo estalou na minha mente. Meu instinto me dizia novamente para fugir.
- Eles estão chamando ajuda. CORRAM!!! - disse, já me virando e começando a correr o mais rápido que pude.

Sarah e Kevin fizeram o mesmo. Fomos seguidos pelos seis velociraptors e, pouco tempo depois, mais alguns se juntaram à caçada. Eu corria a toda velocidade. Meu coração batia disparado. Nunca poderia imaginar que aquela situação pudesse acontecer comigo. Kevin não foi rápido o bastante e acabou sendo morto pelos dinossauros. Sarah gritava, chamando pelo companheiro morto. Foi nesse momento que ela virou para a esquerda e sumiu do meu campo de visão.

Não tinha tempo para me importar com ela. Tinha meus próprios problemas. Sempre que possível, aumentava o tamanho de minhas pernas e dava saltos bem longos, para impedir que eu perdesse tempo pulando galhos, troncos e outros obstáculos que eu tinha no caminho. Foi correndo dessa maneira que cheguei a outra pequena campina. Essa não tinha vegetação e era completamente cercada por árvores. Ali eu parei, me virei e encarei, aterrorizado, aproximadamente dez velociraptors. Não tinha como fugir.
- O professor Logan disse para nunca enfrentar inimigos maiores do que eu. Bom, estou usando suas palavras, professor - disse, enquanto aumentava de tamanho e ficava com quatro metros. Mimetizei minha pele e a transmutei em rocha sólida, então, corri na direção dos velociraptors, atacando-os com chutes, socos e muitos outros golpes.

Ao contrário do que eu poderia imaginar, os vleociraptors me atacaram com arranhões e mordidas. Mesmo minha rígida pele rochosa sofreu danos e acabei me ferindo. Parecia que eu não iria vencer aquela luta, mesmo que eu estivesse atacando com tudo que eu tinha. Foi nesse momento que eu senti um tremor. Quando esse parou, outro o sucedeu. Os velociraptors levantaram suas cabeças e então, quando terceiro tremor aconteceu, eles correram o mais rápido que puderam, adentrando novamente na floresta.

Voltei ao meu tamanho normal e também ao meu estado dermatológico. Estava novamente sujo, rasgado e agora sangrava vigorosamente nas costas e no tórax. A cada novo tremor, as árvores balançavam e ameaçavam cair. Os tremores foram ficando cada vez mais perto. Eu não tinha para onde me esconder. Estava ferido demais e petrificado demais para ir até algum lugar. Foi nesse momento que um forte tremor aconteceu e ele apareceu.

De início achei que estivesse sonhando. Que nada daquilo estivesse realmente acontecendo. Então me dei conta que nos sonhos não sentimos dor, e dor era tudo o que eu sentia naquele momento.
- Só pode estar de brincadeira. Meu dia fica cada vez melhor... - disse com sarcasmo, olhando atentamente para meu mais novo inimigo, o Tiranossauro Rex.

O ser gigantesco pousou seus olhos em mim e notou que eu era uma presa. Com um enorme rugido, capaz de deixar alguém surdo, deu a entender que iria me caçar e me matar. Tapei os ouvidos para não ficar surdo. Foi nesse momento que o Tiranossauro investiu contra mim. Eu não tinha como escapar e estava petrificado, não sei de onde tirei forças para escapar dele, mas eu consegui. Comecei a correr novamente, dando tudo de mim. Os galhos e troncos que eu levava tanto tempo para transpor, eram facilmente destruídos pelo maior caçador que já havia habitado o planeta. Eu ignorei o aviso do professor e aumentei de tamanho, desviando de um golpe do réptil e agarrando-o fortemente pela cauda. Com uma força descomunal, o tiranossauro me arremessou para longe, me fazendo bater com força contra várias árvores e cair no chão.

Uma dor gigantesca inundou meu lado esquerdo do corpo. Não consegui manter meu aumento de tamanho e voltei ao normal. Eu estava com múltiplas fraturas, eu tinha quase que total certeza. Eu precisava continuar, caso contrário, iria morrer. Me obriguei a continuar correndo, por mais que cada passo fosse mais doloroso do que a morte em si. Infelizmente somente os fortes sobreviviam. Desci um pequeno morro e continuei a correr. Isso me deu algum tempo e me afastou um pouco do T-Rex, o que me possibilitou uma camuflagem. Notei que ali perto tinha fezes de dinossauro, então, em um ato desesperado, eu me sujei totalmente com os dejetos dos répteis. Após isso, me escondi o melhor que pude, ficando parado.

Cada batida do meu coração parecia um tiro dentro da floresta. Eu sentia meu peito inflar a cada respiração e batida do meu coração. Eu só esperava que o T-Rex não conseguisse escutá-lo também.

Ele passava lentamente na minha frente. Cada passo seu era como um pequeno terremoto. Eu tentava não respirar ou fazer movimentos bruscos. Estava bem escondido em alguns arbustos ali perto. Meu cheiro bem disfarçado. Tudo corria muito bem. Até que Sarah apareceu correndo, sendo perseguida por vários velociraptors. Assim que a viu, o T-Rex, talvez achando que fosse eu, lhe deu uma mordida vigorosa e a engoliu inteira, quase sem mastigar. Saiu em disparada na direção dos Velociraptors restantes. Aproveitei esse momento para correr para longe dali.

Não demorou muito para que nossos caminhos se cruzassem novamente. Os velociraptors conseguiram despistar o T-Rex e ele, agora, corria novamente atrás de mim. Eu não conseguia ver nada que pudesse distrai-lo ou matá-lo. Só podia correr para frente e torcer para não ser morto. Foi quando cheguei na beira de um grande morro. Sem perceber, eu estava prestes a morrer, seja pelos dentes afiados do réptil ou pela queda. Achei mais prudente morrer na queda e pulei. T-Rex não me seguiu, apenas me observou cair e rolar morro abaixo.

Eu estava vivo. Acordei e logo senti uma pontada aguda no meu pé. Um pedaço de madeira estava fincado nele. Tentei arrancá-lo, mas estava tão fraco que não consegui. Lutei contra minhas dores internas e, finalmente, após muito esforço, consegui arrancar a madeira. Eu agora mancava e tinha meu lado esquerdo destruído. As coisas não melhoravam. O dia estava perto do fim. Eu não tinha para onde ir, não tinha o que comer, não sabia onde estava e não sabia se iria viver. Tudo que eu tinha era água no meu cantil. O meu mapa estava completamente destruído. Eu havia perdido minha faca e tudo parecia estar dando errado de vez. Para completar meu pacote de azar, o tempo começou a ficar nublado. Iria chover logo. Procurei um local onde pudesse passar a noite, mas não encontrei nada além de algumas rochas próximas a um pequeno elevado de terra, como se fosse um pequeno morro. Ali coloquei algumas folhas grandes e as prendi com as rochas. Deitei ali mesmo e tentei focar o resto da minha consciência em uma outra habilidade que eu tinha: a cura. Não sei por quanto tempo consegui me curar. Para mim pareceu pouquíssimo tempo. Acabei inconsciente e a escuridão me pegou novamente. Para mim era o fim do segundo dia.

Já não sabia se estava morto ou apenas sonhando. A mescla entre ambos tornava tudo impossível de discernir. Por um momento achei que tudo o que havia vivido fora um terrível sonho. Que nada havia mudado. Que eu ainda morava na grande mansão da minha família. Eu realmente acreditei nisso, porém, logo percebi que não. O que eu havia vivido era real.

Me encontrava longe da ilha. Estava em casa. A casa que havia recebido minha irmã e as tragédias que se seguiram. Caminhei lentamente, chamando por meu pai, minha mãe e Jolee. Nada. Nenhuma resposta. Fui até meu quarto e ali estava ela, sentada na sacada. Seus cabelos continuavam tão lindos quanto me lembrava. Ela sorriu quando me viu e, nesse momento, não consegui conter as lágrimas. Seu sorriso estava magnífico. Ela ainda era a mesma criança gentil e bondosa que eu me lembrava.
- Oi irmãozão!! - ela ainda me chamava assim. Sorri para ela. Toquei em seu rosto, mas não pude senti-lo. Algo estava diferente.
- Jolee... você está mesmo aqui? Não é um sonho? - perguntei para ela. Jolee sorriu, pulou da sacada e me abraçou forte, deixando seu calor passar para mim.
- Não sei se é um sonho, mas deve ser um sonho bom - disse ela, ainda me abraçando - Eu tenho pouco tempo irmãozão. Vim aqui para dizer que não foi sua culpa o que aconteceu comigo. Foi um acidente - sua voz esbanjava preocupação. Não fui capaz de encará-la por muito tempo. Não tinha o que dizer. No fundo ela também sabia que eu era culpado.
- Sim Jolee, foi culpa minha. Eu iria empurrá-la mesmo não tendo perdido o controle sobre mim. Eu sou culpado... - as lágrimas não paravam de rolar. Jolee sorriu de maneira a me confortar. Ela tinha esse dom. Sempre teve.
- Sendo sua culpa ou não, saiba que eu não estou com raiva, ou magoada. Eu te amo irmãozão. Deixe essa culpa morrer - ela começava a desaparecer agora - Eu tenho que ir. Esse é meu último adeus. Siga em frente, irmãozão... - ela havia sumido, junto com todo o resto.

Acordei com o barulho da chuva. No fim de tudo foi um sonho, ou quem sabe não? Ninguém saberia dizer. Meu corpo ainda doía muito. Ao que parecia, minha habilidade de cura havia dado resultados positivos. Meu corpo, embora dolorido, já não estava mais fraturado. As marcas de mordidas haviam começado a cicatrizar, sendo envolvidas por uma fina pele, que vazava um líquido transparente e aguado. Não conseguia me mover direito. Fui obrigado a ficar ali, descansando. Bebi um pouco de água e fiquei olhando para a floresta. Ela parecia silenciosa. Um tipo de silêncio que precede um grande acontecimento. Era um silêncio atípico.

Eu não havia percebido antes, mas eu estava chorando. Talvez por causa do meu sonho. Eu me sentia bem comigo mesmo. Bem de uma maneira que eu não me sentia há muito tempo.
"Jolee. Obrigado por me ajudar a seguir em frente e me libertar desse fardo. Infelizmente irei carregá-lo por muito tempo ainda, mas me sinto aliviado por saber que, pelo menos você, não sente raiva de mim. Eu te amo, minha irmã... - As lágrimas caíam no chão, como as gotas da chuva.

Não sabia em que momento do dia estava, pois o céu estava nublado e não conseguia ver o sol. Eu estava faminto. Precisava comer o quanto antes. Infelizmente caçar na chuva não era algo muito fácil, pra não dizer agradável. Mesmo assim eu fui. Caminhei com dificuldade por algum tempo. Não conhecia aquela parte da floresta e, muito provavelmente, ficaria perdido se fosse muito para longe. Não encontrei nenhum animal, apenas algumas poucas frutas caídas no chão, já devoradas por animais.

Voltei para meu abrigo improvisado. Comi as frutas e tentei usar novamente meu poder de cura. Eu não era muito bom na utilização dele, então, o máximo que consegui foi tratar as injúrias mais graves do meu corpo. Era desgastante demais ficar usando meus poderes, então, achei melhor parar. Eu estava com medo. Tinha medo de morrer e não sabia mais o que fazer. Meu mapa havia se perdido durante a fuga contra o T-Rex, junto com todo o resto do meu equipamento. Eu estava em uma situação crítica.
- Eu vou morrer... não vou conseguir chegar ao final dessa aula. - eu chorava e me desesperava. A depressão tomou conta de mim. Já não ligava se seria morto, ao meu ver não faria diferença. Adormeci e não conseguia mais acordar, tamanho era o meu cansaço. Foi o fim do terceiro dia.

Acordei no outro dia revigorado. Chorei minhas lamúrias. exorcizei meus demônios internos. Estava pronto para recomeçar. Sim, essa era a palavra, recomeçar. Durante a noite passada havia tomado uma decisão. Uma decisão importante. Jolee havia me dito para seguir em frente. Para lutar. Ela queria que eu fosse algo mais. Algo que pudesse fazer a diferença. Era isso que eu seria: a diferença.

O sangue que corre dentro das minhas veias me impede de sempre acabar sendo o mesmo. Esse fogo que agora queimava em meu interior e que sempre me levava adiante. Para mim é tudo. Isso me deixa forte pra caralho. Já fui chamado de monstro, de demônio, de falso. Talvez estivessem certos. Eu não sou um ídolo, não sou um anjo e não sou um santo. Por isso ando sozinho. Eu sempre andei. Não tenho vergonha quanto a isso. Eu sou e sempre serei um pesadelo, só que dessa vez, quem irá me temer serão meus inimigos. Não irei seguir regras e normas.Não acho necessário. Elas não funcionam. Eu não havia percebido, mas ali, naquele momento, Destroyer nascia. Um anti-herói.

As nuvens carregadas agora começavam a se afastar. A chuva havia passado. O momento de dor havia acabado. Um novo dia nascia. O dia do meu recomeço. Joguei fora minha camisa, pois estava velha, suja e rasgada. Já não servia para muita coisa. Tentei caminhar em direção ao centro da ilha. Para o local onde eu havia encontrado Kevin e Sarah. Demorei muito tempo, mas eu consegui. Os pedaços de Kevin estavam por toda a parte. Graças aos céus, fui capaz de achar seu mapa preso ao seu cinto. Uma parte que os velociraptors não comeram. Através dele consegui me guiar melhor pela ilha. Levei algum tempo para consegui voltar para a cachoeira. Foi nesse momento que ouvi e senti novamente os tremores. Meu coração disparou. Eu não iria aguentar outra investida do T-Rex. Sem pensar em mais nada, me sujei o melhor que pude e me escondi atrás de algumas plantas próximas da cachoeira.

Eu pude vê-lo. Ele não chegou tão perto como da última vez. Dessa vez eu vi apenas sua silhueta, mas foi o suficiente para me manter alerta.
"Preciso sair logo dessa ilha. Hoje é o último dia da aula. Se eu não sair daqui hoje, não sei se vou conseguir mais" - pensava, enquanto via o T-Rex desaparecer.

Comecei a correr. Tentava me guiar pelo mapa. Embora eu não conseguisse interpretá-lo bem, tinha conhecimento suficiente para, ao menos, saber onde estava. Não estava muito longe do local de término da aula. Infelizmente, graças as intercorrências, não fui capaz de chegar ali mais cedo, porém, agora nada iria me impedir. A determinação me guiava. Eu não seria vencido por aquela ilha.

Pouco a pouco subi o morro que me levaria a um novo começo. Aos poucos pude ver o jato do professor Logan, junto com mais duas outras pessoas que não conhecia. Respirei fundo. Estava sério e compenetrado. A ilha havia me mudado. Mudado para melhor, a meu ver. Já não padecia das dores que me sempre me afligiram. Agora eu tinha um propósito. Eu sabia o que queria. Tinha um objetivo na vida. Clémence e Myers iriam ficar muito felizes.

Muitos quilos mais magro, desnutrido, desidratado, com fraturas mal calcificadas e inúmeras marcas de arranhões, mordidas e cortes. Esse foi o resultado final de quatro dias preso naquela ilha, porém, agora havia acabado. Quando cheguei bem perto do professor, me deixei cair pesadamente no chão. Já não aguentava dar nenhum passo sequer. Poucos haviam conseguido voltar, pelo menos até aquele momento. Eu fui o quinto a conseguir finalizar a aula. Respirei o ar de uma nova era. Uma era de muita luta, dor e que poderia me levar à morte, contudo, eu não tinha medo. Eu iria até o fim.

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