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Aula 4 - Morinth

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Mensagem por Morinth Dom Jun 15, 2014 3:00 pm

I could lie, could lie, could lie
everything that kills me make me feel alive

Ela tocou a superfície fria do espelhos com seus dedos enquanto seus olhos fitavam a desconhecida que refletia-se nele. Ela esperou em silêncio por alguns segundos enquanto seu olhar analisava a expressão calma e fria da morena no espelho. Ela tinha olhos claros e profundos que apesar de lindos e jovens pareciam ter visto mais do que os olhos de um idoso. Em seus lábios delicados havia quase uma certa gentileza que faziam-na parecer estar sorrindo docemente quando séria. Ela procurou alguma semelhança, qualquer uma; uma semelhança com a ‘eu’ que lembrava-se, todavia não havia qualquer semelhança externa que assimilava-se à ela. Nenhuma se quer.

A frustração e impotência mesclavam-se e ferviam dentro de si até transforarem-se e transbordarem em puro ódio e repúdio. Seus dedos fecharam-se em punho e por pouco ela não o lançou de encontro ao espelho. Do lado de fora do cômodo as vozes de terceiros misturavam-se transformando-se em murmúrios indistintos que ela pouco se importava de entender. Ela fitou-se uma última vez antes de sair do quarto em que estava para dirigir-se à sua última aula, finalmente. Naquela última olhada ela mirou o colar de dragão que levava no pescoço, o colar que não apenas a lembrava que estava presa ali e lhe aumentava a ira, mas o qual retornava lembranças bem mais antigas à sua mente.

Os humanos tinham esta estranha ligação com seu passado; eles não conseguiam desapegar-se dele e por não conseguirem tal fato acabavam afogados em lembranças e sentimentos antigos. Morinth não gostava de muitas coisas na Terra e naquela forma, a constante lembrança de coisas vividas tornaram-se um fardo naquele pequeno período de tempo.

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O sangue escorria por sua testa, escuro com pequenas partículas prateadas ele manchava seu pálido e acinzentado rosto. Os olhos completamente negros dela voltavam-se com ódio para seu agressor: seu pai. Na memória ela ainda era uma criança, nem mesmo uma coroa possuía, mas era muito claro que ela seria a sucessora de Odraz; ela que tinha o sangue de rainha, o sangue real que faria com que Odraz mantivesse sua grandeza. Contudo, os pensamentos e atos daquela jovem rainha assustavam seu pai de tal forma que contê-la não parecia ser mais o suficiente.

Mais um golpe foi direcionado ao rosto da princesa, e mais um corte surgiu nele. Os guardas reais atrás de seu pai desviaram os olhos da cena direcionando suas orbes pálidas para o chão e parede. O eco do golpe ressonou no cômodo seguido pelo silêncio macabro dos seres, como se dizer algo naquela situação a tornaria mais real e pior.

– Perguntarei novamente: porque você fez isso, Morinth?! – Vociferou seu pai dando um tapa com as suas garras no rosto da garota fazendo com que corte leves e superficiais surgissem na sua face pálida.

– Eu já disse que não o fiz! – Disse a garota com firmeza no que falava com sua voz embargada por um tom triste.

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A Rainha adentrou a sala e sentou-se onde costumava-se sentar, felizmente aquela era a sua última vez sentada naquelas cadeiras de madeira. Os outros alunos conversavam sobre coisa que ela não se importava e não entendia, por isto apenas ficou ali parada olhando para a mesa de madeira enquanto o professor não começava a aula. Com as unhas ela descascava a madeira da mesa, desejando internamente possuir suas garras para ao invés de arranhar a estraçalhar por completo.

O professor, como de costume, começou sua aula com pequenos discursos e afirmações; uma espécie de guia sobre como ludibriar, o qual mesclava vários tópicos das aulas passadas. Mais uma vez ela agradeceu silenciosamente por aquela ser a última que deveria ir, pois além de não agradar-lhe a submissão taciturna de professor-aluno, não a agradava os costumes e coisas que cercavam os humanos, desde a maneira que falavam às coisas que usavam.

– Qual característica faz com que mentirosos sintam menos medo de serem desmascarados do que outras pessoas? – Sebastian Shaw perguntou à turma enquanto mantinha um sorriso de escárnio no rosto.

Alguns responderam, outros apenas continuaram calados. Morinth fitou-o por pouco tempo antes dos seus olhos voltarem-se para o quadro à frente.

– Confiança. – Ela sorriu ao responder.  – Confiança em si próprio; nas próprias habilidades em relação ao mentir, característica que os torna ainda mais periogosos.


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Outro golpe acertou o rosto da garota tão forte desta vez que a cadeira na qual estava sentada caiu com um baque no chão. As luzes piscaram e som de eletricidade passou pelo espaço quando o vociferou mais uma vez:

– NÃO MINTA PARA MIM!

No chão a Rainha moveu-se levemente como se dor a consumisse por todos os membros. Ela voltou seus olhos completamente negros na direção de seu pai e num sussurro plangitivo ela respondeu-o.

– Não estou mentido, pai. O senhor deve acreditar em  mim! Porque eu faria uma coisa dessas? Não tenho motivos ou aspirações em relação à. O senhor me conhece, não? Sabe que eu não faria algo assim. O senhor sabe! – A medida que falava sua voz embargava em tristeza e desespero.

Seu pai agarrou em seu comprido e alvo cabelo e puxou-a para cima deixando sua cadeira novamente em pé. Morinth segurou sua dor transformada em gritos dentro de si.

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Sebastian continuou à aula e as perguntas, enquanto a Rainha prestava mais atenção aos outros do que ao que era lhe passado realmente. Os alunos sorriam ou ficavam sérios em suas máscaras de descontentamento. Alguns pareciam extremamente focados no aprendizado, outros pareciam importar-se mais em como suas unhas pareciam do que com a aula realmente. A odraziana poderia se encaixar no grupo que não importava-se, contudo as aulas traziam-na tantas lembranças e respostas automáticas que não prestar atenção a elas era algo quase impossível.

– O que é preciso para improvisar bem em uma mentira? E, qual critério diz que não é bom mudar detalhes em suas mentiras? – Mais duas perguntas foram feitas pelo homem que caminhava de um lado para o outro, talvez tão descontente quanto a maioria por estar preso ali.

A rainha fitou o vidro da janela que refletia quase invisível a sua própria aparência; ou melhor, a aparência humana que seu corpo assumira. Naqueles olhos claros e estranhos ela percebeu que havia a mesma carga pesada, e vazia ao mesmo tempo, que seus olhos odrazianos possuíam. Ela enxergou, pela primeira vez talvez, uma semelhança entre os seus “eu’s”.

– Para improvisar-se bem é preciso pensar rápido, afinal a outra pessoa pode fazer diversas perguntas das quais você não planejou antes. E, claro deve-se ter uma memória boa o suficiente para lembrar-se das respostas dadas. – A Rainha tocou levemente o colar em seu pescoço e então voltou a falar.  – O critério no caso é o de “manter sua história até o fim”, mudar detalhes às vezes pode ser uma grande chance do outro lhe desmascarar, e mudanças dificultam sua própria memória do que já disse.

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O Rei estalou os dedos e os quatro guardas que agora cercavam a cadeira na qual a princesa estava sentada apontaram suas armas para ela. Seu pai aproximou-se da garota novamente, o rosto próximo o suficiente para que ele cochichasse algo que somente ela ouviria. E for ao que fez.

– Eu sei que foi você, Morinth. Eu a vi. – As muitas vozes de seu pai sussurraram de maneira cruel para ela. Ele afastou-se então, agora com suas vozes num tom normal. – Conte-me novamente onde estava naquele dia.

Até o momento a princesa já havia dito muita coisa, tanto antes deste interrogatório cruel quanto durante. Seu pai sabia que era provável dela não lembrar de algo que afirmara anteriormente, a grande questão era que ninguém de Odraz sabia sobre as habilidades da princesa em mentir e manipular.

– Eu já lhe disse, pai. – Começou a princesa a falar enquanto meio que soluçava entre um choro contido. – Eu estava em meu quarto estudando krogan e fargoriano quando ouvi o som de gritos e a explosão. Eu não sabia o que havia acontecido então saí do quarto e corri na direção do barulho para ver o que era...

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– O que fazer para que as mentiras se tornem difíceis de identificar? O que fazem os manipuladores sentirem menos culpa? Por que bons mentirosos devem ter boa memória e por que é importante denunciar a mentira? – O professor perguntou apontando sua mão para que Morinth respondesse enquanto a observava de forma avaliativa.

Ela o fitou enquanto respondia suas perguntas, brincando com a canela em sua mão rodando-a pelos dedos distraidamente.

– A verdade deve ser colocada na mentira, seja uma verdade pequena, grande ou qual for. Como nos ensinado nas aulas passadas, a “caixa de bombons”, uma mentira cercada por várias verdades. Quando há verdade no que você diz fica mais difícil das pessoas desconfiarem que algo que dissera era mentira. – A segunda pergunta desenhou um sorriso nos lábios de Morinth por um instante. – Manipuladores não sentem culpa pelo que fazem, querido. É como dizer que uma criança sente culpa em brincar com a boneca porque está fazendo as ações e pensando por ela. E, bom, como já disse, mentirosos devem ter uma boa memória para que possam lembrar-se de tudo que disseram anteriormente sobre suas mentiras, mesmo os mínimos detalhes da mesma. E denunciar a mentira é uma tática que põe em prova a confiança de alguém em você; por ficar irritado com a pessoa e dar motivos pelos quais você seria incapaz de fazer ou falar algo torna os sentimentos mais reais algo como “como você pode desconfiar de mim?!”.

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– ... eu parei perto do lustre que há no corredor, aquele espelhado que Sonrin sempre diz gostar, e quando eu olhei na direção do salão a fumaça já o tomava por completo e os corpos já estavam no chão. – Ela disse pausando vez ou outra para respirar por conta do choro. – Pai, o senhor sabe o quanto eu gostava de Ghren! Ela também estava lá, morta! O senhor realmente ainda acha que fui eu que fiz tudo aquilo? Eu nem ao menos tenho poder pra isso, pai. O senhor está cego; cego pelo desejo de encontrar que fez tal chacina. – Disse a menina erguendo suas vozes cada vez mais.

O Rei então deu mais um tapa no rosto da garota, desta vez uma de suas garras passou propositalmente por cima da cicatriz que Morinth possuía no rosto, cortando-a novamente e fazendo mais sangue negro jorrar. O odraziano retirou a grande coroa espelhada da cabeça e aproximou-se de sua filha novamente. Seus olhos negros fitavam o igualmente vazio negro dos olhos de sua filha. Ele a fitou em silêncio por alguns segundos, e depois finalmente pronunciou-se com suas vozes cansadas e irritadas ao mesmo tempo.

– Odrazianos são andarilhos dos mundos; observadores e professores sobre a vida, não interferimos nos acontecimentos de um planeta, mas ensinamos para seu povo como lidar com tais. Não destruímos, apesar de podermos. Não conquistamos, apesar de capazes. Não fazemos alianças, amizades, ou muito menos nos deixamos ser invadidos. Não somos bons, não somos maus. – O Rei suspirou pesadamente e logo levantou-se novamente, suas vestes e suas longas madeixas alvas manchadas com o sangue negro cintilante de sua própria filha. – Odrazianos são a paz silenciosa e afastada do universo. Nós somos os sobreviventes.

Morinth fitava seu pai ainda com o olhar triste e raivoso, mas ela nada disse, pois se dissesse suas palavras não agradariam seu pai. Seu pai, o Rei que seguia tradições antigas e que há muito não enxiam os olhos de seu próprio povo. O povo odraziano que com o passar do tempo deixou de ser aquele povo observador para tornarem-se ambiciosos.

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A Rainha tocou a cicatriz no seu lado direito do rosto, outra das coisas que havia em comum entre aquele corpo e o seu corpo real. Apesar de iguais aquela cicatriz era uma das coisas que ela não desejaria possuir; havia muitas lembranças sobre ela, algumas que ela gostaria de esquecer. Mas como esquecer quando suas lembranças são tão nítidas quanto a realidade?

– Por que é bom ter um cúmplice?  Por que é importante criar o hábito de mentir? – Sebatian, o líder do Clube do Inferno e professor, caminhou por alguns alunos, cujos olhavam-no com certo receio de como ele poderia reagir. Todos naquela sala era imprevisíveis, inclusive o próprio professor. – Para finalizar a aula, por que é melhor não mentir ao mesmo tempo em que seu cúmplice?

– Ter pessoas que confirmem sua história é um grande meio de convencer os outros de que a história é real. Já o hábito de mentir lhe dá experiência em tal coisa, tornando-se algo mais natural quando o faz além de lhe dar mais facilidade ao lidar com suas emoções ou com a dos outros. – Ela cruzou as pernas para o outro lado enquanto continuava a girar a caneta entre os dedos. – Falar ao mesmo tempo que o cumplice pode criar confusão, afinal ele pode dizer algo e você outra coisa, afirmações que causam negação ou contradição na fala do outro.

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As armas dos quatro guardas atiravam-se e as luzes azuladas acenderam-se em suas laterais. O Rei fitou pela última vez sua filha com uma expressão de tristeza no rosto que misturava-se também com alívio.

– Você sabe que está cometendo um erro, não é, pai? – Ela disse, sua voz ainda embargada pela tristeza. – Qualquer guarda do corredor de meu quarto poderia confirmar o que aconteceu, mas o senhor ainda prefere acreditar que eu sou o problema, não é? É mais fácil acabar com as suas dúvidas sacrificando um inocente do que ir em busca da verdade.

O Rei franziu o cenho enquanto sua mão fechava-se sobre a coroa que segurava. Tudo o que sua filha havia dito, as suas expressões e modo de se portar indicavam que ela estava realmente falando a verdade. Ele acreditava nela, assim como os guardas também acreditavam. Contudo, não poderia apenas liberá-la quando Morinth fora encontrada na cena da chacina, mesmo que ajoelhada ao chão. Ele não queria matar sua filha, não quando ela era a única Rainha que sobrara pra governar Odraz, afinal apenas a realeza feminina tinha o dom de atravessar outras pessoas pelos portais ao Labirinto, sem uma Rainha Odraz não poderia ajudar os outros ou similar. O Rei suspirou mais uma vez; depois de 364 anos ele teria de começar sua vida novamente...

A porta do cômodo de repente abriu, lá fora outros guardas estavam dispostos. Três deles eram os guardas do corredor que Morinth disse passar, os outros cinco eram os outros guardas pessoais do Rei. Os guardas do corredor irromperam numa cachoeira de palavras com suas duplas vozes explicando qeu a princesa realmente estava correndo para o salão depois que ele havia sido atacado e todos mortos. O Rei quase pode suspirar de alívio.

– Eu disse que não havia sido eu, pai. – Falou Morinth por fim enquanto levantava-se da cadeira a qual correntes prendiam-lhe as mãos e pernas. Não havia mais qualquer entonação de tristeza em sua voz.

– Desculpe-me, querida, mas isso era o certo a fazer. – Disse o Rei recolocando a coroa e indo libertar a princesa. – Eu irei encontrar o assassino de nossa família e amigos, querida.

Houve apenas silêncio em retorno por algum tempo enquanto o Rei apoiava-se sobre os ombro da odraziana. Sob os pequenos espelhos cristalinos da coroa Morinth viu seu reflexo; viu seus cortes, machucados, hematomas, sujeira. Ela viu a sua falta de realeza refletida ali. Sua boca contorceu-se de forma raivosa deixando que seus pontiagudos dentes aparecessem. Suas mãos envolveram o pescoço de seu pai em um abraço e em seu ouvido suas várias vozes sussurraram:

– Não há necessidade.

As garras da menina degolaram seu pai antes que ele pudesse ter uma reação ao que ela disse. Antes da cabeça do rei cair no chão junto de seu corpo num tilintar, Morinth pegou a coroa sobre ela. Nenhum guarda moveu um músculo em resposta, apenas continuaram com suas expressões sérias diante do ocorrido.  Morinth respirou profundamente, havia agido por impulso naquele momento. O plano era deixar seu pai vivo e só depois que tivesse suficientemente forte tomar o poder; os planos teriam de mudar no entanto.

– A nova era de Odraz não curva-se, suplica, ou apenas assiste o universo. Ela destrói, domina, manipula e conquista, querido Papai. – Morinth lambeu o sangue escuro da ponta de uma de suas garras antes de sair daquele claustrofóbico cubículo de cela seguida por todos os guardas leais à nova Rainha; leais à Rainha que toda Odraz sempre esperou por.

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A aula havia terminado, a última aula que deveria ir, por fim. A odraziana fitou-se pela ultima vez no vidro da janela antes de sair daquela sala sem olhar para qualquer um ou qualquer coisa. O que mais desejava no momento era não ter de voltar para o que os humanos chamavam de “classe”. E, claro, desejava também um pouco do tal café, aquilo realmente era muito bom.


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