[ORIGINS] Wintour, Ami.

Heróis. Vilões. Caos.

Nosso mundo presenciou inúmeros eventos em que pessoas dotadas com grandes poderes tentavam proteger a galáxia de indivíduos grandiosos com grandes armas de destruição em massa. E para prestigiar os heróis caídos em batalha, como também mostrar à próxima geração os perigos que o universo já enfrentou, fora criado um museu no centro de Washington DC.

Um grupo de estudantes, sob supervisão de sua professora, era guiado por um jovem rapaz de cabelos avermelhados até a sala de estátuas, onde os heróis eram homenageados. A primeira escultura da amostra era de uma heroína trajando seu clássico uniforme de combate e diante dela, um painel flutuava. Pressionando as teclas, o guia ativou o sistema, que emergiu na forma de uma projeção holográfica de uma, com vestes elegantes.

— Saudações, meus jovens – disse o programa, exibindo um sorriso. — Meu nome é Historia, a inteligência artificial responsável pelo Museu e hoje, nessa tour, irei contar a vocês sobre os maiores defensores dessa galáxia, começando pela Silhoutte, a dançarina das lâminas.

Por trás de todo herói, há uma história. Há um fator que o impulsionou a tornar-se um pilar de segurança para a sociedade em que vive e isso não foi diferente com a Silhouette. A garota foi adotada aos cinco meses de vida por um casal britânico que a encontrou abandonada nas ruas de Seul na Coreia do Sul. O motivo? Ninguém sabe. Ela nunca se interessou em saber mais sobre sua família biológica, preferindo seguir em frente com as pessoas que a acolheram.

Silhouette nasceu homem. Sim, isso mesmo que você leu. Até um certo período em sua infância, quase entrando na adolescência, ela era conhecida como Charlie, um garoto que aos poucos foi descobrindo quem realmente era. A paixão por moda que a maioria dos membros da família Wintour possuía, contagiou a criança, que desde cedo já fazia desenhos de roupas em seu pequeno caderno.

Apesar de frequentar um colégio onde as crianças pertenciam a famílias importantes, o preconceito e o bullying ainda existiam. Mesmo carregando o importante brasão da casa Wintour, Charlie sofreu com os garotos e garotas que caçoavam dele por seus gostos diferentes, pelo jeito como agia quando abria a boca para falar sobre moda. Hesitando ao retornar à escola, sua mãe – Beverly – o levou para assistir um espetáculo em um teatro na cidade, onde descobriu sua segunda paixão: a dança.

Foi na dança que Charlie encontrou forças para poder continuar lutando contra o preconceito. Ingressou no ballet aos sete anos e não demorou até que passou a ser o protagonista das apresentações e, mesmo mantendo-se firme, ainda continuava sendo alvo de piadas em sua escola. Sempre recluso em sua casa com seus desenhos e sem amigos, Charlie não sentia que pertencia a lugar algum, afinal não era inglês de nascença nem se sentia confortável em ser quem ele era e aos poucos ele foi descobrindo que a identidade de gênero designada a ele após seu nascimento não o definia, ele não se sentia àquela pessoa.  

Dez anos de idade. Foi quando Charlie deu início à sua transição. À princípio, seus pais acharam que era apenas por conta dos ataques sofridos no colégio, tentaram explicar que homens também podem gostar de coisas como desfiles ou dança, sem perder sua masculinidade. Contudo, o garoto não se sentia assim, ele sabia que não foram esses motivos que o levou a tomar essa decisão. Ele sabia quem era de verdade.


Três anos depois, após sair do ginásio do colegial depois de uma tarde inteira em aula de educação física, Charlie entrou no banheiro masculino, sempre depois que todos saíram, afinal não queria que ninguém notasse as mudanças que estavam ocorrendo em seu corpo devido ao processo de transição. No entanto, Darwin Williams, um dos garotos mais disputado tanto pelo time esportivo quanto pelas meninas, apareceu em busca de confusão, acompanhado do seu fiel grupo de amigos. Avançando por todos os lados, eles encurralaram Charlie que estava debaixo do chuveiro, totalmente despido e com o medo tomando conta de si.

Com palavras ofensivas, o grupo partiu para cima de Charlie, que tentava se proteger das mãos que tentavam tocá-lo. E logo começaram as agressões. Jogado ao chão, o garoto protegeu seu rosto para evitar o máximo de dano possível, enquanto lágrimas caiam pelo seu rosto. Foi nesse momento que o impossível aconteceu: seus poderes despertaram. Seu corpo formigou, os golpes que recebia parecia que o fortaleciam, o alimentavam, como se fosse algo bom, como se pudesse absorver todo o impacto. Quando seus olhos mudaram de coloração, emitindo um brilho amarelado, Charlie, em um grito de desespero, liberou toda a energia na forma de uma explosão, jogando os garotos contra a parede. Ninguém havia entendido o que tinha acontecido ali, mas não demorou muito para que Charlie descobrisse que era mutante.

Guardando para si esse segredo, alguns traumas haviam sido desenvolvidos devido ao ocorrido no banheiro, como o medo de sofrer abuso sexual. Porém, encontrou conforto com o pingente que havia ganhado de seu pai, o então nomeado Nine Hell, que possuía um sistema de defesa para protege-la, como também passou a ingressar na turma de artes marciais. Assim que saiu do colégio, por volta dos dezesseis anos, entrou para a universidade de Cambridge, especializando-se em moda, como sempre desejou fazer.

Durante sua formação, sua transição foi se completando, o garoto foi se encontrando e ainda não aceitava sua mutação, sempre negando e escondendo o fato de que possuía poderes. Decidiu, então, mudar seu nome para Ami, que a lembrava de suas origens, e retornou aos palcos ao lado de amigos que faziam teatro, recriando clássicos espetáculos de ballet até graduar-se.

Mesmo com os inúmeros heróis que apareciam na televisão diariamente, ela nunca interessou-se em buscar conhecer mais sobre seu lado mutante, sobre seus poderes, que vez ou outra saia do controle. Ela queria continuar vivendo uma vida normal, fazendo sua parte para que a sociedade melhorasse, para que pessoas como ela fossem felizes quando quisessem, ela queria ser esse tipo de heroína, não uma que enfrenta vilões colocando sua vida em risco.

Tudo mudou quando o Titã Louco invadiu a Terra, trazendo ao mundo o que ficou conhecido como “A Dizimação”. A partir desse dia, a vida de Ami nunca mais foi a mesma, sua família transformou-se em pó junto com cinquenta por cento de todas as criaturas vivas do planeta. Ela notou que não poderia mais permitir que pessoas ruins continuassem causando estragos sem saírem impunes, ela queria acabar com todos e para isso, criou a Silhouette, uma vigilante que não pensava duas vezes quando o assunto era matar para proteger aqueles que necessitavam.

Amada e odiada por muitos, ela dividia a opinião dos cidadãos devido aos seus métodos extremos na maioria das vezes. Contudo, apesar dos pesares e desafios que surgiram, nada a parou. Com a ajuda de mais duas vigilantes, ela criou um grupou de operações secretas que tinha como objetivo fazer o que os heróis não faziam: o trabalho sujo.

Mesmo sendo o alvo de críticas e de obstáculos mais difíceis de serem superados, Ami ou Silhouette, como preferir, sempre esforçou-se para limpar o mal da Terra, seja ele humano ou não.

— Uma heroína bastante controversa, devo dizer – comentou Historia, ao parar de exibir as cenas em que destacavam Ami em diversas lutas. — Seu sacrifício sempre será lembrado e é por conta dele que ela se encontra aqui, nesse Museu. Bom, vamos para o próximo?

O guia pressionou as teclas novamente para desligar o painel, levando as crianças para a próxima estátua.